A percepção dos empresários da indústria sobre a demanda externa mudou de direção e voltou a crescer em maio, impulsionada pelo dólar, que fechou o mês cotado a R$ 2,00, aponta a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com a movimentação no câmbio, que já subiu quase 8% este ano, há indústrias dando desconto de até 18% no preço em dólar e indo à luta para ampliar a exportação, porque a atividade ficou mais rentável.
O alvo dos exportadores são países da América Latina - exceto Argentina, onde prevalecem medidas protecionistas. É que esses mercados não foram tão afetados pela crise. A perspectiva é que, depois do período de marasmo nas exportações, espelhado nos resultados das vendas externas que caíram 3% em abril e subiram apenas 4,5% no primeiro quadrimestre na comparação com 2011, os negócios deslanchem e surtam efeito na balança comercial nos próximos meses.
Depois de cinco meses consecutivos de queda, em maio, o indicador do nível de demanda externa cresceu quase 7% em relação a abril, descontada as influências típicas do período, mostra a sondagem. “O indicador despencou com a crise na Europa e desaceleração da China. Mas, com a mudança no patamar do câmbio, começou a melhorar”, observa o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo.
O economista acha que essa primeira reação do mercado externo está ligada ao câmbio porque esse é o único fator que teve comportamento diferente nos últimos meses, já que o cenário de crise não mudou - aliás, piorou, no caso da Europa. “Agora o exportador pode vender seus produtos por menos dólares e receber mais reais”, explica.
Nove de 14 setores analisados pela sondagem registraram crescimento no indicador de demanda externa de abril para maio, entre os quais estão alimentos, têxteis e mecânica, entre outros. Mas quatro deles foram responsáveis por mais da metade do aumento: metalurgia, mecânica, material de transporte e vestuário e calçados.
“Reduzimos entre 10% e 18% os preços da nossa tabela em dólar”, conta Valquirio Cabral Jr., diretor comercial da Lupo, fabricante de roupa íntima. Ele diz ter sentido alguma reação e que as exportações, que hoje representam 4% do faturamento da empresa, podem subir para 6% até o fim do ano. O executivo conta que 70% das exportações da companhia são para países da América do Sul, entre os quais se destacam Uruguai e Paraguai.
A Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, é outra empresa focada na América Latina que sentiu a reação do mercado. “A frequência de fechamentos de negócios de exportação aumentou”, diz José Rubens de la Rosa, diretor-geral da empresa. Em abril, a companhia vendeu cerca de 500 ônibus para o Chile. Em maio, foram comercializadas mais 300 unidades para o mesmo destino. Também, diz o executivo, há negócios entabulados com compradores do Peru e do Uruguai.
Além da alta do câmbio, que reduziu os custos em dólar dos ônibus, o executivo acrescenta outros fatores que devem favorecer as exportações, como a desoneração da folha de pagamento, que ainda não entrou em vigor, e reduções de tributos concedidas às exportações no Plano Brasil Maior. Pelo desenrolar dos negócios, o executivo projeta crescimento de 10% nas exportações da empresa neste ano, depois de queda de 8,3% em 2011.
Com a melhora do câmbio, até empresas que atuam na Europa estão conseguindo fechar negócios. Esse é o caso da fabricante de pão de queijo congelado Forno de Minas. Na semana passada, o presidente da empresa, Hélder Mendonça, fez um giro pela Península Ibérica para abrir o mercado da Espanha.
“As expectativas são muito positivas”, diz o empresário. Além de dar desconto de 15% sobre o preço em dólar, ele decidiu fazer promoções para conquistar novos clientes num mercado em recessão. Se o dólar se mantiver no patamar de R$ 2,00 ele acredita que a fatia das exportações no faturamento dobra de 5% para 10% este ano.
Dobrar a participação da exportação na receita, de 2% para 5%, também é a meta da General Brands, dona da marca de sucos prontos Camp. “Ficamos quase dois anos no marasmo e, nos últimos 50 dias, sentimos uma reação nas vendas externas”, diz o presidente da empresa, Isael Pinto. Ele conta que, quando o dólar estava em R$ 1,60, a indústria não tinha margem para exportar e só mantinha os clientes, sem fazer esforço para vender mais. “Agora seremos mais agressivos nas negociações.”
O diretor do frigorífico Mondelli, de Bauru (SP), Constantino Mondelli Filho, é outro que sentiu um aumento significativo na demanda de cortes de carne pelos países do Oriente Médio no mês passado, com perspectivas crescimento para junho e julho. Ele explica que, normalmente, a procura cresce nesta época do ano, período que antecede o Ramadã, período de jejum ritual para os muçulmanos. “Só que, neste ano, a procura está sendo maior do que o esperado”, diz o empresário, que ainda vê esse movimento com cautela.
Fonte: http://jcrs.uol.com.br/
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