segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Clássico Flecha Azul despede-se de Sorocaba

Última viagem do lendário ônibus da Viação Cometa causou alvoroço na rodoviária e no trajeto até São Paulo
Adriane Mendes

Dezenas de pessoas, além dos passageiros que aguardavam ansiosos para embarcar, foram na manhã deste domingo até a rodoviária de Sorocaba se despedir do último Flecha Azul, o clássico ônibus da Viação Cometa que, entre os anos 80 e início dos anos 2000, circulou pelas estradas brasileiras. A recepção foi tida como a "mais calorosa e a viagem mais animada" pelos dois motoristas, Ricieri Antunes e Marcos Adriano Paixão Ernesto, escolhidos entre os 1.200 da empresa para fazerem as 65 viagens comemorativas aos 65 anos da Viação Cometa, motivo pelo qual o ônibus de prefixo 7455 foi restaurado. No trajeto para São Paulo, acompanhado pela reportagem, o clima era de alegria entre os felizardos que garantiram as passagens e também de saudosismo pelo fim de uma era, já comparada à extinção do avião Eletra, do Fusca e até a da ferrovia.

Quem passasse na manhã deste domingo na rodoviária talvez não entendesse o motivo de tanta gente ao redor de um ônibus esperando o momento para encostar na plataforma. Mas não era um simples ônibus. Era um Flecha Azul, que fez história não apenas na vida de milhares de usuários, como ajudou a destacar a própria Viação Cometa, a única a ter tais modelos. Ele foi fabricado entre 1983 a 1999 em oito versões pela Companhia de Manufatura Auxiliar (CMA), depois que a Ciferal, do Rio de Janeiro, parou de fabricar o Dinossauro (anterior ao Flecha Azul). Mas o ônibus restaurado não é mesmo o último a ser produzido pela CMA, sendo na verdade um Flecha Azul VII. Os dois únicos Flecha Azul VIII, fabricados em 1999, que tinham os prefixos 7500 e 7501, estão em mãos de colecionadores. 

Toda essa admiração atrasou em meia hora a saída marcada para as 10h30. Pessoas num carro o seguiram até a rodovia José Ermírio e Moraes (Castelinho), para fotografá-lo, e no trânsito o histórico ônibus também era saudado. Na chegada em São Paulo, às 12h30, não foi diferente: diversos "busólogos" o aguardavam. E é claro que lá houve nova sessão de fotos para recordação, inclusive por essa repórter. 

Natural de São Paulo, o comerciário Alberto Gomes, 40 anos, que foi o feliz ganhador da miniatura sorteada em cada uma das viagens, se diz um saudosista: "o Flecha Azul é o carro ideal da Cometa, é como se fosse o Fusca". Ele e o amigo David Vieira possuem na rede social facebook o grupo Ônibus & Raridades, com foco para ônibus antigos. O amigo, que é designer gráfico e faz miniaturas para vender, comparou o fim do Flecha Azul ao do avião Eletra, da também extinta Varig. "Ele era o Cadilac do céu, e o Flecha, das estradas", resumiu David, que levou o filho Enzo, de 3 anos, para conhecer e ao mesmo tempo se despedir do clássico ônibus.

Para se ter uma ideia da dimensão do amor dos "busólogos" em geral, e em especial dos "cometólogos", havia gente até de Itatiba. O fotógrafo e "busólogo", como faz questão de frisar, Emerson Henrique Silveira, trouxe a esposa Emilene, que no começo estranhava o gosto do marido, mas que por ser colecionadora de esmaltes acabou se acostumando.

O administrador Chailander Borges, que neste domingo fez o trecho completo, já havia feito a viagem comemorativa de Santos e também a do Rio de Janeiro.

Segundo os motoristas Ricieri e Ernesto, policiais rodoviários os param na estrada para fazer fotos. E até mesmo o ator Carlos Miranda, que se tornou policial rodoviário após estrelar a série Vigilante Rodoviário na década de 1960, foi cumprimentá-los, dias atrás, na viagem de Poços de Caldas para São Paulo.

Festa no ônibus

Num universo mais masculino, foi a presença de duas mulheres que fez com que a viagem se tornasse uma festa. A revelação feita por Aldelaine de Oliveira de que neste domingo era seu aniversário, mas que o presente, se referindo à viagem, era do marido Everaldo Ferreira de Oliveira, provocou o primeiro parabéns coletivo. Selma Caetano da Silva, que também acompanhava o marido João Alves dos Santos, contou que o passeio fazia parte dos festejos pelos 29 anos de casamento, comemorados ontem, e também ganhou parabéns. E o terceiro foi para a Cometa, mas com uma diferença: o grito de "é pique, é pique", foi substituído por "é flecha, é flecha..."

A viagem mais parecia uma excursão entre amigos, mas é que, apesar de muitos terem acabado de se conhecer, um motivo os unia: o amor pelo Flecha Azul. Amor este compartilhado também pelos motoristas Ricieri e Ernesto, respectivamente com 32 e 20 anos de trabalho na empresa. Ricieri, o mais antigo, disse que o Flecha Azul "é único, não tem comparação, não tem parâmetro em termos de segurança e estabilidade. Já deixou saudades, é uma lacuna que não conseguiremos preencher".

Também com algumas histórias sobre a Cometa, Ricieri escolheu uma recente: "na viagem de Lorena para São Paulo, chegou um senhor de uns 80 anos de idade, que também foi motorista da empresa. Ele me pediu o quepe para uma foto e caiu no choro, eu também não aguentei e chorei".

A campanha

As viagens começaram em 24 de agosto e a derradeira será em 17 de outubro, de São Paulo a Campinas, com os vencedores do concurso de histórias. Até lá já terão sidos visitadas as cidades de Curitiba, Rio de Janeiro, Campinas, Lorena, Praia Grande, Franca, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Poços de Caldas, Jundiaí, Poços de Caldas, Santos, Juiz de Fora e Sorocaba.

Ao término das comemorações, o Flecha Azul fará parte do acervo histórico da Viação Cometa.

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