sábado, 2 de outubro de 2010

Ônibus só fará sucesso, quando for visto como solução, avaliam especialistas

Especialistas presentes ao 11º Encontro das Empresas de Fretamento e Turismo avaliam que o transporte coletivo é solução para a mobilidade urbana e melhoria nos deslocamentos do turismo em pequenas distâncias.
Durante os três dias do Encontro, que foi promovido pela FRESP - Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo, mais de 400 empresários de 10 Estados brasileiros puderam discutir o futuro do transporte profissional de pessoas e definir as estratégias do setor para os próximos anos. Um dos temas recorrente nas discussões sobre o turismo rodoviário foi a Copa de 2014. Mobilidade urbana foi outro assunto que dominou os debates a respeito das políticas públicas para o transporte coletivo.
Palestras motivacionais também estiveram entre os destaques do 11º Encontro das Empresas de Fretamento e Turismo. O evento ainda reuniu 17 fornecedores em sua feira de negócios, os quais apresentaram produtos e serviços destinados à inovação tecnológica das frotas utilizadas no fretamento. Foram expostos desde carrocerias, ônibus rodoviários, chassis, pneus, autopeças e equipamentos, até opções de combustíveis limpos, assistência técnica, tapeçarias, entre outros. Estima-se que os negócios fechados no Encontro de 2010 somaram R$ 6 milhões, 20% a mais do que na edição de 2009.
Em seu discurso de abertura, Claudinei Brogliato, presidente da FRESP, salientou: “Nossa expectativa é dar uma nova visibilidade ao transporte profissional de pessoas, por isso, ainda temos muito a fazer. Esperamos contar com todos nesse desafio, porque unidos somos muito mais fortes!”
Palestras motivacionais
Para ajudar nesse projeto de crescimento do setor, o professor Carlos/Alberto Júlio, primeiro palestrante do 11º Encontro, lembrou ao empresariado que o Brasil é a maior nação mestiça do mundo e essa característica multirracial a torna mais criativa. “Nosso povo é capaz de tornar este País num dos mais bem-sucedidos do século XXI. Basta olhar para trás e se inspirar na vontade dos imigrantes que saíram de suas pátrias, trabalharam duro e ajudaram a transformar nosso território na terra da abundância”.
De acordo com o consultor, os próximos dez anos serão a década da prosperidade para o Brasil. Para ele, deve vir uma onda favorável em todos os setores da economia. “Teremos que inovar para crescer, capacitar nossa mão de obra e focar nossas energias em nossos negócios”, assegurou. Para Júlio, a inovação pode estar na estratégia, no RH, no marketing, na logística e não só no produto. “O cliente atual quer três coisas simultâneas: qualidade, rapidez e preço”, sentenciou. E aconselhou: “Defina metas, descubra suas vantagens competitivas, pense e aja diferente, se quer resultados diferentes”.
Já Cláudio Diogo, outro palestrante motivacional, mostrou a visão do consumidor em relação ao bem adquirido. “O comprador quer aquilo que o produto pode proporcionar a ele. Observe o mercado com uma visão mais aberta e perceba qual o serviço que o consumidor quer agregado à sua compra. Entenda o processo mental do cliente.”
Por fim, Christian Barbosa, autodenominado “nerd”, falou sobre a falta de tempo e o desgaste que as pessoas vivem hoje. “O Brasil já é considerado o segundo país mais estressado do mundo. Só perde para o Japão”, informou. Ainda lançou um desafio à platéia: “Você é de fato um empreendedor ou é um escravo do trabalho?”, provocou.
Para ele, nós associamos estresse ao trabalho e precisamos mudar esse conceito e viver motivados pelos resultados. “Essa é a diferença entre viver trabalhando e viver aproveitando”, garantiu. Segundo Barbosa, empreender com metas é focar naquilo que é realmente importante. “É preciso sair do ciclo da sobrevivência, focalizar no que nos leva ao ciclo da prosperidade e nos tira do ciclo da frustração”, recomendou.
Segundo o especialista em gestão do tempo, precisamos aprender a separar nossas atividades em categorias - importantes, urgentes e circunstanciais. “Devemos valorizar a importância e não a urgência”,declarou. Uma das dicas é fazer as tarefas em ordem sequencial. “Deixe de ser multitarefa, pare de fazer zilhões de coisas ao mesmo tempo. Você tem a impressão de otimizar os resultados, mas na verdade está desperdiçando seus minutos. Você faz as coisas mais rapidamente, quando executa uma atividade de cada vez.” Para Christina o melhor é descarregar todas as informações contidas no cérebro em uma ferramenta de trabalho. “Pode ser um caderno, uma agenda, um software, mas é preciso anotar para se organizar”, repetiu.
Barbosa transmitiu uma metodologia, que para ele foi determinante, para mudar seu próprio ritmo de trabalho. O método consiste em cinco etapas: Identificação (definir prioridades); Metas (saber para onde vai); Planejamento (elaborar estratégias); Organização (localizar as coisas rapidamente) e Execução. Ele ainda recomendou que se faça reuniões somente em casos imprescindíveis. “Reuniões são uma espécie de ralo de dinheiro. Economize em reuniões e você poupará os recursos financeiros de sua empresa”, avaliou.
Turismo
Entre os assuntos mais aguardados, os projetos para o desenvolvimento rodoviário, anunciados pela presidente da Empresa Paulista de Turismo e Eventos – TUR.SP, foram recebidos com expectativa por todos os presentes ao 11º Encontro. Não poderia ser diferente, já que o turismo representa 10% do PIB mundial e 6,2% do PIB brasileiro.
Luciane Leite prometeu interceder junto às autoridades para tentar reverter as restrições de paradas de ônibus nos pontos atrativos de São Paulo, um dos principais entraves do transporte profissional de pessoas. “Um em cada 17 empregos no Brasil são gerados pela cadeia do entretenimento. São Paulo responde por 43% do volume de negócios com turismo em nosso País. São R$ 56,5 bi anuais em receitas. Nossos governantes têm que entender a importância da indústria do turismo, que movimenta os diversos setores de nossa economia”, refletiu. “Podem contar com a TUR.SP nesse pleito junto às autoridades. Vamos trabalhar no apoio à adequação da legislação do transporte turístico junto às prefeituras, Ministério do Turismo, ANTT e ARTESP”.
Segundo a representante do governo do Estado de São Paulo, é preciso ter metas para alavancar o turismo no Estado. “Para tomar atitudes, precisamos de planejamento”, ditou. “Setenta e oito e meio por cento (78,5%) do turismo receptivo paulista é intraestadual, então precisamos investir em turismo rodoviário”, completou.
Para ela, a Copa de 2014 é uma das grandes ocasiões para viagens de curta distância. “Temos compromisso firmado com a FIFA por meio do COESP, comitê gestor da Copa e estamos trabalhando com a Secretaria Estadual do Planejamento e com a Prefeitura de São Paulo para preparar a infraestrutura da cidade.”
Luciane explicou que as oportunidades de geração de emprego e renda não se restringem somente à Capital. De acordo com ela, 50 cidades paulistas já estão qualificadas para os roteiros turísticos. “Temos que nos preparar para receber as seleções para os treinos e jogos amistosos nas cidades-sedes. Temos que reservar produtos especiais para o turista que vem assistir o campeonato, pois sabemos que ele viajará para fora da cidade depois dos jogos. Vamos organizar eventos de exibição pública, chamados de Fan Fest FIFA, em que a população poderá assistir às partidas no telão, por isso precisamos investir em mobilidade urbana e transporte coletivo adequado”.
A presidente da TUR.SP garante que espera envolver a iniciativa privada e a sociedade civil nos projetos destinados à Copa do Mundo a serem realizados em São Paulo.
Mobilidade Urbana
Para o presidente do Fórum Paulista de Secretários de Transportes, Rogério Crantschaninov, o serviço por fretamento é um ganho em qualidade de vida para o passageiro, ao contrário do transporte convencional, que segundo o secretário, tem baixa qualidade e alto valor de tarifa. Sobre mobilidade urbana, Crantschaninov acredita que o modelo atual prioriza o transporte individual, que causa desperdício de tempo e energia, gera impactos ambientais e agrava os problemas de saúde pública devido à poluição.
“Os acidentes de trânsito no Brasil provocam 35 mil mortes por ano, geram R$ 28 bi em custos em tratamentos de saúde, aposentadorias e internações. O que queremos é um maior estímulo ao transporte coletivo, com veículos mais modernos e tecnologias limpas. Temos que aumentar as restrições ao uso dos modos individuais. Para isso precisamos integrar os vários modais, criar tarifas mais atrativas, proporcionar a desoneração fiscal e tributária da operação, ter um programa de redução nas emissões de gases poluentes e de aumento da eficiência energética, aumentar a fiscalização e a penalização dos condutores infratores. E o fretamento pode contribuir para a redução dos automóveis nas vias em horários de pico, já que seu usuário deixa o carro na garagem para ir ao trabalho”, considerou o secretário.
Segundo ele, além de propiciar ganhos na qualidade de vida, o fretamento também colabora com a produtividade das empresas, evita atrasos, absenteísmo ao trabalho e diminui o estresse no trânsito. “O fretamento pode complementar o transporte público”, salientou. Por outro lado, Rogério informou que a modalidade não está inserida nas políticas públicas de transporte de pessoas. “Os parlamentares não enxergam o fretamento como parte da solução para a mobilidade. Precisa haver uma mudança de discurso”, recomendou.
Já para Cláudio de Senna Frederico, do Observatório de Mobilidade da ANTP - Associação Nacional de Transportes Públicos, cada pessoa realiza uma média de 1,58 viagens por dia, porém, 50% desses transeuntes usam o carro para se locomover a pequenas distâncias, como ir até a padaria, por exemplo. Por que isso acontece? Frederico avalia que é uma questão de status. “O carro veste bem. As pessoas preferem usar o carro. Seus valores são influenciados pela renda”, informou.
Cláudio de Senna avalia que a motorização é inevitável. “A motorização continuará em marcha, isso não irá mudar”, revelou. “Mais pessoas, se puderem, comprarão seus automóveis. Comprar não é o problema, o uso do veículo é a questão”, comparou.
“Não podemos esquecer que a classe C está em ascendência. Como esses emergentes se sentem segregados pela sociedade elitista, o carro é importante para eles. O carro não apenas transporta, ele é uma vestimenta que identifica o usuário”, complementou o especialista.
De acordo com suas conclusões, as ruas e estradas foram feitas para os automóveis e, segundo conceitos retrógrados, a fluidez deve ser assegurada a qualquer custo e os veículos grandes são um entrave. Pesquisa realizada pela ANTP sobre o transporte público revela que a maior parte das pessoas o veem como perigoso ou desconfortável. Outros acreditam que deve melhorar, mas não pretendem utilizá-lo. A maioria quer que ele seja barato e autossustentável. Na rua, não deve atrapalhar a fluidez do trânsito. Também acreditam que os ônibus são os maiores poluidores e que a cidade fica melhor sem eles. Mas para o técnico da ANTP, o transporte coletivo é fundamental para a mobilidade.
Diante dessas respostas, Senna avaliou que será difícil conseguir apoio político para as propostas de melhoria ao transporte coletivo, seja ele público ou privado. “Político não tem vontade, tem interpretação da vontade pública”, analisou. “É mais fácil restringir ônibus do que carro. Para a maioria, os ônibus e caminhões são intrusos, então que se restrinja a circulação dos maiores, para se deixar o espaço viário mais livre para o transporte individual”, considerou.
O especialista enxerga o ônibus por fretamento como o mais parecido com o automóvel, pois é confortável, tem flexibilidade de trajetos e o número de pessoas juntas é menor. “O veículo de fretamento é um carro grande com motorista”, brincou. Para Cláudio, é um modal que precisa ser integrado a cidade. Na esfera do transporte coletivo, se considerado o número de passageiros, o ônibus ocupa menos espaço que um automóvel. “Também polui menos, custa menos e mata menos”, concluiu. “O ônibus só vai fazer sucesso, quando for visto como uma solução boa, útil e favorável.”

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