Clayton Netz - O Estado de S.Paulo
Os mais de oito mil funcionários das duas fábricas de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, da Marcopolo, líder nacional na venda de carrocerias de ônibus, com 45% de market share, não terão sossego até o fim do ano. Os sábados, domingos e feriados viraram dias úteis para quem trabalha na produção. O motivo são as três mil encomendas de ônibus que devem ser entregues principalmente às empresas brasileiras no período - apenas 10% desse volume seguirá para os países sul-americanos, como Argentina, Peru e Chile. O aumento da demanda interna se deve a uma série de circunstâncias favoráveis no cenário nacional, que elevaram em 30% a produção da Marcopolo este ano para 26,5 mil veículos e vão gerar uma receita líquida estimada em R$ 2,8 bilhões. "O consumidor está viajando mais e as empresas de transporte estão aproveitando as condições favoráveis dos financiamentos para renovar suas frotas", afirma Carlos Zignani, diretor de relações com o investidor da Marcopolo.
Segundo Zignani, além do aquecimento da economia, o bom desempenho da Marcopolo é explicado por dois fatores principais: financiamentos com prazos mais dilatados e juros mais baixos para a aquisição de ônibus. Os prazos dos financiamentos concedidos pelo BNDES passaram de seis para oito anos. E os juros agora estão fixados em até 8%, ante os 11% cobrados anteriormente.
Outros eventos marcados para os próximos anos estão gerando um ambiente de otimismo na Marcopolo. Entre eles, Zignani aponta a Copa de 2014, as eleições municipais de 2012 e os leilões para a exploração das linhas interestaduais e internacionais, previstos para acontecer em 2011, envolvendo 2.500 linhas e 250 empresas em todo o País. Zignani calcula que, de um total de 15 mil ônibus que compõem a frota nacional das linhas interestaduais e internacionais, seis mil serão renovados nos próximos anos.
Além disso, a limitação da circulação de veículos com mais de dez anos de uso vai pressionar as montadoras a investir na produção de chassis menos poluentes. "A adaptação deverá elevar o preço final do ônibus em cerca de 10%", diz Zignani. "Antecipar a compra é uma forma de fugir do reajuste."
Internacionalização. A Marcopolo está presente em seis países - Índia, Egito, África do Sul, México, Colômbia e Argentina - por meio de joint ventures com empresas locais. Atualmente, a principal operação é a indiana, uma parceria com a Tata Motors. Em menos de dois anos de atividades, a Tata Marcopolo Motors elevou sua produção de 5.050 unidades, no início de 2009, para 12 mil, neste ano. O mercado da Índia é formado por 30 mil ônibus anuais e tem potencial para chegar a 50 mil em 2013.
De olho nesse potencial, a Marcopolo e a Tata fixaram uma meta: atender a metade do mercado, elevando a produção para 25 mil ônibus. Outro ponto estratégico para a empresa é a fábrica do Egito, que deve atender ao mercado europeu após o fechamento, no ano passado, da operação de Portugal, a primeira aberta no exterior. "Portugal ficou pequeno para a Marcopolo", diz Zignani. "Podemos chegar à Europa pelo Egito, a custos bem mais em conta."









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