terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O desafio do trem regional...

Notícia publicada na edição de 18/01/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A
Sem um padrão de qualidade altíssimo quanto à comodidade e um apelo econômico forte, dificilmente os usuários se disporão a abrir mão das vantagens de que já dispõem
A lista de obstáculos a superar para que trens de passageiros possam correr entre Sorocaba e São Paulo, a velocidades máximas que podem chegar a 150 km/h, encurtando o tempo da viagem para algo em torno de 40 a 55 minutos (“De Sorocaba a São Paulo - STM aponta desafios para trem-bala”, 16/01, pág. A6), é bastante extensa e pode, mesmo, fazer supor que o projeto é inviável, dada a complexidade.
No entanto, o empreendimento em fase de estudos na Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado assume contornos de coisa possível quando se recorda que o desafio de ligar Sorocaba à Capital por trem já foi vencido há 140 anos, numa época em que os limitados recursos tecnológicos e de Engenharia faziam da construção de uma estrada-de-ferro uma epopeia impensável para os padrões atuais.
Uma ligação rápida entre as duas cidades, hoje já bastante próximas dada a boa qualidade das conexões rodoviárias, teria reflexos positivos para a vida de quem reside numa cidade e trabalha ou estuda na outra, e significaria uma revolução em termos de transportes terrestres, pela redução do número de veículos de passeio e ônibus que circulam nas vias de acesso da Capital e em seu sistema viário.
O impacto nas rodovias pode ser dimensionado pelos dados divulgados pela própria secretaria. Hoje, o eixo São Paulo-Sorocaba registra uma média diária de 71,3 mil viagens rodoviárias, das quais 49% (35,2 mil) em automóveis e 51% (36,1 mil) em vans ou ônibus. Para a região metropolitana de São Paulo ocorrem dezoito mil viagens de automóvel e dezessete mil em ônibus e vans. Número semelhante de veículos se desloca diariamente no sentido contrário.
Do ponto de vista dos usuários, a melhoria é evidente. O transporte ferroviário é mais seguro, menos poluente e apresenta um custo operacional muito menor ao longo do tempo, se comparado ao transporte por rodovia. Para quem se locomove diariamente de uma cidade a outra, a interligação em alta velocidade significaria uma economia substancial de tempo e, o que é muito importante, uma integração rápida com outros meios de transporte, como metrô e ônibus urbanos.
Entretanto, o investimento nos trens regionais só se justificará plenamente se o serviço oferecido, além de rápido e seguro, for confortável e economicamente atraente a ponto de persuadir os atuais usuários de ônibus interurbanos, ônibus fretados e veículos particulares. Sem um padrão de qualidade altíssimo quanto à comodidade e um apelo econômico forte, dificilmente os usuários se disporão a abrir mão das vantagens de que já dispõem em seus meios de transporte atuais.
Por outro lado, é preciso que se pense nos desdobramentos que o trem regional pode ter para Sorocaba, em aspectos como deslocamento de mão-de-obra da Capital para as empresas locais e outras possíveis consequências. Ainda não ficou muito claro o reflexo do “encurtamento” da distância. Já se falou no temor de que Sorocaba vire uma cidade dormitório (algo que parece improvável, dada a vitalidade da economia local) e de um aumento de concorrência de trabalhadores da Grande São Paulo, que viriam trabalhar aqui.
Seja como for, o fato é que a ligação entre as cidades tem se tornado mais rápida ao longo do tempo, à medida em que os meios de transporte e a tecnologia das estradas evoluem, o que faz da integração de Sorocaba à região metropolitana de São Paulo uma tendência natural. É indispensável, diante disso, que as políticas públicas locais tenham em vista essa realidade, e procurem antever os problemas, com o intuito de preservar a qualidade de vida da população.
Se São Paulo receberá os benefícios dos trens regionais, se o sistema viário da Capital será desafogado e a poluição veicular diminuirá, convém cuidar para que Sorocaba não fique com os efeitos colaterais, que precisam ser diagnosticados e analisados em profundidade, enquanto há tempo.

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