por Frederico Pinheiro
As oito maiores empresas de transportes públicos viram ‘fugir’ 40,5 mil passageiros por dia, nos últimos dez anos. No total, em 2011 realizaram-se menos 147,7 milhões de viagens na Carris, STCP, metros de Lisboa, Porto e Sul do Tejo, Fertagus, Transtejo/Soflusa e CP face a 2001.
Desde então, apenas a Fertagus e o Metro de Lisboa ganharam passageiros, num período que conta ainda com a entrada em funcionamento dos metropolitano do Porto (2003) e Sul do Tejo (2008).
Os autocarros são cada vez mais preteridos, com a STCP, do Porto, a realizar em 2011 menos 124 milhões de viagens do que em 2001, e a Carris, de Lisboa, com menos 79 milhões. A maior contribuição positiva vem do Metro do Porto, que atraiu 55 milhões de passageiros em 2011.
O ano de 2011 quebrou a dinâmica de crescimento de passageiros dos dois anos anteriores, segundo os dados das empresas facultados ao SOL. No ano passado realizaram-se menos 6,1 milhões de viagens nestas empresas.
Para este resultado contribuiu, de forma significativa, o aumento médio do preço dos bilhetes em 15% decretado pelo Governo em Agosto, uma medida que visa equilibrar as contas das empresas do sector. No primeiro semestre de 2011, estas empresas registavam, no total, um ganho em relação a 2010 de 35 mil passageiros diários. Mas a tendência inverteu-se no segundo semestre, com uma quebra de 3,4% nos passageiros transportados: o aumento dos preços ‘custou’ 69 mil viagens diárias às empresas.
Mas não são apenas os aumentos de tarifas que explicam a tendência de perda dos últimos dez anos. Segundo Álvaro Maia Seco, docente na Universidade de Coimbra, a política de transportes tem «privilegiado a utilização do automóvel». «Por um lado, quer resolver-se o problema do serviço da dívida, que é uma loucura», explica. Em 2010, 76% dos prejuízos das empresas deveram-se ao pagamento de juros da dívida. «Por outro lado», continua o antigo presidente do Metro do Mondego, «é necessário encontrar novas fontes de financiamento, por exemplo, através da apropriação das mais-valias imobiliárias e da utilização das receitas de estacionamento no sector».
Desincentivar a utilização do transporte individual é um imperativo, garante. Segundo o Eurostat, entre 2001 e 2009 a extensão das auto-estradas portuguesas disparou 63%, para 2.705 quilómetros. Como causa e consequência, há mais 734 mil automóveis de passageiros a circular do que em 2001, num total de 4,48 milhões em 2010, segundo os últimos dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
«O transporte público não é atractivo», resume Paulino Pereira, docente do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. «Há pessoas que começam a comprar carros em segunda mão: é mais prático e até mais barato». Para o especialista, a estratégia definida «deve pensar nas pessoas, colocar-se no lugar do utilizador».
*com Emanuel Costa
Fonte da Matéria: http://sol.sapo.pt/
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