por Rafael Brusque Toporowicz
Check-in, despacho de bagagem, programa de fidelidade, 1ª e 2ª classes. Esses termos são comuns aos usuários do transporte aéreo de passageiros e agora também fazem parte do dia a dia de quem frequenta os terminais rodoviários do país. Para enfrentar a concorrência com o setor – que bateu recorde de desembarques no último ano –, empresas de ônibus intermunicipais e interestaduais têm adaptado conceitos das companhias aéreas e disponibilizado novos serviços aos seus clientes.
A preocupação tem fundamento. Em 2011, segundo levantamento do Ministério do Turismo, mais de 79 milhões de passageiros desembarcaram em aeroportos brasileiros, um crescimento de 15,8% em relação ao período anterior. O número de passageiros no transporte rodoviário, no entanto, tem declinado: 131 milhões, em 2011, contra 136 milhões, em 2010 – de acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Com passagens aéreas cada vez mais acessíveis à classe C brasileira, foi preciso se reinventar para atrair e manter aqueles que optam pelas rodovias. Para o pesquisador em transporte na Universidade de Brasília (UnB), Artur Morais, as empresas estão tentando correr atrás do prejuízo. “Essa é uma tentativa de fidelizar os clientes e buscar aqueles que têm alguma restrição com o transporte aéreo. Antes o diferencial era o preço, que não existe mais. Até que enfim os empresários abriram os olhos e perceberam que o consumidor está mais exigente”, diz.
E é buscando agradar esse novo perfil de usuários que as empresas têm investido em inovação. Exemplo disso são os novos ônibus Double Class lançados pela Auto Viação 1001 no início de junho. Com a aposta de atingir jovens executivos, foram investidos R$ 16 milhões na compra de 18 veículos com tecnologia Wi-Fi para uso gratuito pelos passageiros do trecho Rio-São Paulo. Além disso, a frota conta com sistema de classes, executiva e leito, e uma espécie de escritório a bordo, com mesas para apoiar notebooks e tomadas para carregar computadores e celulares.
“A gente sabe que existe uma concorrência forte com o aéreo, porém, quem mais sofre com isso são as empresas rodoviárias de longa distância. Não é o nosso caso. Uma das linhas mais longas que temos é a Rio-São Paulo, com forte atuação da ponte aérea. Diferente de muitas empresas, que vem anunciando quedas de passageiros, nós estamos em uma situação diferente por conta de todas os lançamentos que temos feito”, explica o gerente de marketing e comercial da empresa, Daniel Oliveira.
As inovações a que se refere Oliveira vão além dos ônibus com internet livre. Desde março, a empresa oferece um programa de fidelidade, baseado no mesmo modelo das aéreas. Um cartão de crédito criado em parceria com uma instituição financeira gera pontos para as passagens compradas pela internet ou pelo telefone celular, que podem ser trocados por viagens gratuitas. “A grande vantagem do nosso programa é que o cliente pode trocar os pontos por passagens em outras empresas do Grupo JCA [responsável pela Viação Cometa, Viação Catarinense, Viação Macaense, Expresso do Sul e SIT-Macaé]. A partir da segunda quinzena de agosto vamos estender o serviço também para as compras realizadas nas rodoviárias”, explica.
Custo x benefícios
O setor rodoviário enfrenta outro desafio quando o quesito é justamente o bolso. Enquanto as aéreas podem realizar promoções de última hora, as rodoviárias precisam informar pedidos de tarifas promocionais na ANTT. É necessário registrar, com no mínimo cinco dias de antecedência, os descontos superiores a 50% no preço máximo autorizado pela agência. As tarifas pagas pelos usuários do transporte terrestre ainda incluem ICMS, o que não ocorre na aviação.
A prova disso é o levantamento realizado pela Agência CNT de Notícias no dia 6 de agosto. No trecho Rio-São Paulo, por exemplo, as duas maiores companhias aéreas do país disponibilizavam passagens a partir de R$ 99, quando compradas com mais de sete dias de antecedência. O mesmo trecho percorrido em um ônibus leito custava entre R$ 109 e R$ 119 e, no executivo, R$ 91. O modelo rodoviário, no entanto, se mostra mais competitivo nos bilhetes comprados com pouca antecedência, já que não sofre reajuste.
“Acredito que não é só uma questão de regulação, já que quase não existe concorrência entre as empresas de transporte interestadual. Elas concorrem diretamente com o aéreo, que hoje, em algumas rotas, possui mais de uma empresa atuando. As empresas têm que ter essa flexibilidade [de efetuar promoções]. Agora, o que existia também era uma falta de vontade dos empresários em reduzir os preços”, pondera o engenheiro Artur Morais.
Conforto
Enquanto ações promocionais mais agressivas não são possíveis, investir no conforto do passageiro é o diferencial. Para isso, as rodoviárias estão cada dia mais parecidas com os aeroportos. Salas vip, paineis eletrônicos, sistema de autofalantes e até despacho de bagagem já estão disponíveis aos usuários. A Itapemirim, empresa que está há 64 anos no mercado, é uma das que “importou” o sistema de check-in. Para atender aos mais exigentes, a companhia passou a pesar as malas e se encarregou de levá-las ao bagageiro dos ônibus.
“Estamos sempre procurando formas de diminuir a experiência dos passageiros em aguardar. Por meio de uma pesquisa, vimos que este poderia ser um diferencial, já que o passageiro não quer mais ficar em filas”, explica o gerente comercial da viação capixaba, Fernando Santos. Além do despacho, a empresa oferece em alguns terminais – como o de São Paulo e Rio de Janeiro – as chamadas salas vip. O espaço, com saída direta para a plataforma de embarque, possui café, chá, ar-condicionado, TV, biblioteca e bancada para acesso à internet.
Mobilidade
A entrada no universo online, inclusive, faz parte das ações para fisgar esse novo perfil de viajantes. Grande parte das empresas de transporte rodoviário já possui a opção de compra de bilhetes pela internet ou pelo telefone. Agora, elas investem na customização do serviço para tablets e smartphones. A Viação 1001 lançou a venda pelos celulares em março e a Itapemirim espera lançá-la nos próximos meses. “A aceitação foi tão boa que pensamos em ampliar o serviço. Para quem ainda não tem celular no modelo smartphone, queremos lançar pontos de vendas por meio de totens ativos, no mesmo formato dos autoatendimentos, que hoje servem apenas para impressão de bilhetes comprados pela internet”, antecipa o Daniel Oliveira, da Viação1001. O projeto está em fase de testes, mas a expectativa é de que, em breve, os usuários possam contar com mais este serviço.
Fonte: Agência CNT
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