sábado, 22 de setembro de 2012

Ônibus são lentos, superlotados e desorganizados na capital

                            Nilton Fukuda/AE
Felipe Frazão, de O Estado de S.Paulo
A construção de corredores exclusivos de ônibus aparece em quase todos os discursos dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Mas um outro problema, ligado à administração do sistema, poderia ajudar bastante, segundo especialistas, a reduzir a espera dos passageiros nos pontos de ônibus: a melhor distribuição das linhas pelos bairros do município.
Sete meses após a posse, o futuro prefeito terá a chance de enfrentar o gargalo. Terminam em julho de 2013 os contratos com as empresas concessionárias de ônibus e com as cooperativas de vans que prestam o serviço de transporte coletivo. São 15 mil veículos que percorrem 1,3 mil linhas espalhadas em oito regiões - as catracas dos ônibus paulistanos rodam, por dia, quase 10 milhões de vezes.
No contrato das concessionárias, em vigência há dez anos, há a possibilidade de prorrogação por mais cinco. Os das cooperativas não podem mais ser renovados.
Em geral, as linhas de ônibus fazem trajetos de cada uma das regiões e bairros em direção ao centro. As cooperativas mantêm as vans com traçados auxiliares entre os bairros e até os 28 terminais de ônibus. Mas faltam linhas entre as regiões da cidade, o que aumenta o tempo de espera dos passageiros nos pontos.
No primeiro semestre, a ouvidoria da São Paulo Transporte (SPTrans) registrou mais de 77 mil reclamações de usuários do sistema. O motivo principal (27 mil) é o intervalo excessivo de espera pelo ônibus. E quando ele chega, já está superlotado. O preço da passagem na cidade é R$ 3 - com o Bilhete Único é possível realizar até quatro viagens num período de 3 horas.
Para especialistas, a licitação permite rever por completo a organização do sistema, estabelecer novas metas de qualidade e redistribuir as linhas - concentrando as de trajeto semelhante em corredores. Segundo consultores em transportes, é indispensável aliar a reorganização ao investimento em corredores exclusivos. A gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) não conseguiu concluir os 66 quilômetros de corredores prometidos em 2008. Só em maio abriu licitação para a construção das vias exclusivas, no valor de R$ 2,3 bilhões.
Para o mestre em Transportes pela USP Sérgio Ejzenberg, os ônibus devem complementar o transporte de massa do metrô - sistema de transporte sob responsabilidade do governo estadual -, fazer a ligação com as estações e terminais. Ele defende que é o momento de rearranjar o sistema, transferindo linhas para corredores com faixa na esquerda, veículos biarticulados e ônibus expressos e paradores. A proposta dele é que, nos bairros, a Prefeitura deixe ônibus menores e com maior frequência de passagem, para reduzir o tempo de espera. "Esperar mais do que 10 minutos numa periferia para trabalhar às 5h da manhã é desesperador. A lotação do ônibus só interessa ao transportador."
O engenheiro de trânsito Flamínio Fichmann defende que a nova licitação acabe com a regionalização dos consórcios: "Os editais só atendem ao interesse dos empresários, em função das áreas tradicionais em que eles operam". Para Fichmann, São Paulo precisa criar mais linhas "perimetrais" - entre as regiões -, baseadas em necessidades de viagem que já podem ser identificadas pela SPTrans com análise de informações de sistema GPS dos veículos e do bilhete único dos passageiros. "Assim haveria maior cobertura, com linhas novas e ônibus de menor capacidade, que operam onde grandes não entram."
Mestre em Transportes pela USP, Horácio Figueira aposta na criação de linhas-tronco, que façam percursos fixos em corredores de ônibus conectados por GPS com os semáforos, para acelerar as viagens. "É só colocar as linhas em corredores. Precisamos deixar o ônibus andar, dar velocidade", afirma.

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