sábado, 29 de setembro de 2012

Próxima parada: sustentabilidade

Grupo Águia Branca alia negócios e meio ambiente. Entre iniciativas, estão controle de emissão de gases poluentes e manutenção que prolonga uso de pneus da frota.
DÉBORAH OLIVEIRA
Manter a saúde econômica e a do planeta. Esse é o desafio que começa a invadir o dia a dia das empresas. Sustentabilidade tornou-se um compromisso assumido com os negócios e as futuras gerações. Assim é no Grupo Águia Branca (GAB), um dos maiores conglomerados de transporte e logística do Brasil. Lá, tecnologia da informação é agente facilitador de programas sustentáveis. Por essa razão, apoiada em projeto inovador, a empresa foi a vencedora do Prêmio IT Leaders de Sustentabilidade e TI Verde, em sua segunda edição neste ano.
Esse prêmio especial, totalmente isolado do ranking, escolheu o CIO/empresa com maior pontuação obtida no questionário respondido por 350 líderes de TI, do total de 457. A análise foi baseada na participação do departamento de TI na elaboração a na condução das políticas e práticas sustentáveis da companhia. O questionário foi criado pelo pesquisador ambiental e cientista político Sergio Abranches, para o especial CW 300 e metodologia adaptada pela equipe da COMPUTERWORLD.
Um dos mais importantes exemplos da preocupação da Águia Branca com sustentabilidade está no controle de frotas, que mapeia, por veículo, o gasto de combustível, pneu e emissão de gases poluentes na atmosfera. A atividade já contribuiu para significativa redução das emissões de gases de efeito estufa.
Os veículos são equipados com telemetria, que permite a medição e o registro a distância de parâmetros como quantidade de combustível consumida, quilometragem percorrida, paradas do veículo, níveis de óleo, água etc. Somente na Viação Águia Branca são 750 ônibus com a tecnologia e na VIX [empresa do grupo] são mais de 2,5 mil carros, implementos e ônibus monitorados. 
O sistema mapeia a aceleração do veículo, o freio, velocidade e outros indicadores. As informações são enviadas para o Centro de Controle de Operações (CCO) para identificar oportunidades de melhoria no comportamento dos motoristas.
O condutor do veículo que consegue economizar mais combustível e, por consequência, emitir menos gases poluentes na atmosfera, recebe um prêmio. “São estabelecidas metas anuais de consumo e os profissionais que recebem melhores avaliações são reconhecidos. “Esse programa tem mais de dez anos e vem amadurecendo ao longo do tempo. Atualmente, os controles são feitos por sistemas e sensores, que têm previsão de receber melhorias em 2013”, explica Aldo Zuquini Junior, gerente de Tecnologia da Informação do GAB.
De acordo com ele, combustível é componente de custo e é altamente poluente e por isso a preocupação. “Os dois elementos mais críticos são pneu e diesel e os que mais controlamos por aqui”, assinala. 
Ele explica que os dados vão para o sistema de gestão empresarial (ERP) da companhia, gerando indicadores de desempenho de economia e redução de emissão de gases na atmosfera. Tudo é controlado pela área de Tecnologia da Informação, que soma cerca de 120 pessoas em todo o Brasil. “Consideramos essa uma iniciativa brilhante. Foi uma demanda das empresas, gerida por elas com o apoio da TI. Somos apenas uma peça desse sucesso”, afirma. “TI está entrelaçada nos negócios e em função disso contribui para a sustentabilidade”, completa.
Segundo ele, não houve um marco na história da empresa que estabelece o início da era da sustentabilidade. “As iniciativas começaram a acontecer e vimos que estabelecer controles não beneficiaria apenas a companhia, reduzindo custos, mas também a saúde do País”, relata.
Desde 2006 na organização e também pilotando a TI, o executivo diz que incentiva a colaboração e o trabalho em equipe e promove constantemente novas ideias relacionadas à sustentabilidade.
Daí surgiu outra grande iniciativa. No início deste ano, a área de TI centralizou o descarte de equipamentos ociosos e baterias, ação que era conduzida até então por cada empresa do grupo. “Mas, muitas vezes, elas realizavam o correto descarte do aparelho e não eliminavam as informações contidas neles. Passamos para a nossa gestão e já na primeira rodada vamos eliminar 1,5 tonelada de dispositivos de TI”, comenta. A companhia fechou parceria com a Marca Ambiental que ficará responsável pela reciclagem e destinação ecologicamente correta do lixo.
Recentemente, a empresa também passou a realizar o controle de impressões. “Mapeamos quantas folhas cada máquina imprime e todos os dias os gestores da área recebem um relatório com esses números”, assinala. São aproximadamente 150 impressoras espalhadas em todo o Brasil, que imprimem cerca de 287 mil cópias por mês. “Com o controle, esperamos reduzir em 20% esse número até o final de 2012, chegando a uma economia final perto de 50% do volume de impressões”, detalha.
Ele diz que aquele que mais imprime e consome papel recebe um e-mail alertando a quantidade de árvores que derrubou. “A pessoa sente-se responsável e diminui as impressões”, diz.
O próximo passo dessa ação, segundo ele, é implementar um sistema para que a pessoa envie o comando de impressão, mas tenha de ir pessoalmente até o equipamento para liberá-la. “Assim, evitamos o esquecimento de papéis nas máquinas e o desperdício”, relata.
Fruto do estímulo da TI, mais um projeto inovador passou a fazer parte do desenho da área. Trata-se do uso de uma calculadora digital desenvolvida internamente, disponível na intranet, que informa ao usuário a quantidade de energia que os diferentes tipos de computadores e notebooks consomem ao longo de suas vidas úteis. “Como a compra de equipamentos é realizada por cada empresa, decidimos facilitar a escolha de novos. A calculadora avalia consumo de energia e outros indicadores e aponta a melhor opção”, explica.
“Quanto maior o coeficiente energético de um equipamento, mais pontos ele acumula e consequentemente melhora sua avaliação final”, assinala. A escala vai de zero a cem, em que zero significa “descarte” e cem “impecável”. De 86 a 95, por exemplo, é considerado “muito bom”. 
Zuquini Junior lembra que ser sustentável não se limita a pensar apenas na parte física. “O lixo virtual também é uma ameaça ao mundo real”, sintetiza. “Promovemos uma campanha anual para que as pessoas limpem suas pastas e tirem da rede o que não usam. Assim, liberam espaço nos equipamentos de armazenamento e consumimos menos energia”, completa.
As pastas de arquivos temporários também têm uma rotina de limpeza mensal e não podem ser restauradas. “Atitudes simples contribuem sobremaneira interna e externamente”, ensina.
O aumento do uso da tecnologia em todo o mundo requer, cada vez mais, recursos de data centers e esse consumo tende a crescer de forma exponencial. Diante desse cenário, a TI da organização presta atenção em tecnologias que ajudem a reduzir a pegada de carbono.
Por isso, entre as iniciativas da TI estão ainda as básicas de TI Verde, como virtualização e melhorias constantes no data center. Hoje, o Grupo Águia Branca conta com 175 servidores virtualizados em produção e mais 75 para ambiente de testes e homologação. “São 250 servidores virtualizados que rodam em apenas 24 servidores físicos”, contabiliza.
De acordo com ele, com virtualização foi possível economizar energia de processamento, armazenamento e refrigeração. “Em nosso último projeto de atualização do data center, há um ano, isolamos termicamente as salas dos servidores, que geraram maior eficiência dos equipamentos de resfriamento e consequentemente menor gasto de energia”, pontua.
Com o DNA verde, a TI planeja, em breve, eliminar toda a papelada na empresa e ir muito além da tecnologia, acabando, por exemplo, com o copo descartável. “Nossa filosofia é apoiar os negócios, sendo a sustentabilidade um dos pilares da atuação”, finaliza o diretor de TI e vencedor do Prêmio IT Leaders de Sustentabilidade e TI Verde. 
Como foi selecionado o vencedor
No processo de identificação das empresas e CIOs mais avançados nas práticas sustentáveis, a equipe da COMPUTERWORLD levou em consideração dois pontos fundamentais. Primeiro que qualquer medida de sustentabilidade deve estar centrada na questão de redução de emissões de carbono. No caso do Brasil, está relacionada ao uso de energia e também ao consumo de combustíveis e de insumos intensivos de carbono e pegada de água.
O segundo, é que ainda não há um padrão de TI Verde adaptado às especificidades do setor no Brasil e de uso geral. Por isso, a publicação usou o modelo de Abranches.
A avaliação considerou básica a implementação de processos e práticas para redução aliada à adoção de métodos e metodologias para medição de emissões e a prática da política dos três “erres”: reduzir, reusar e reciclar. Assim, os aspectos de monitoramento e medição e os de infraestrutura tiveram peso maior.
Foram finalistas dessa categoria Aldo Zuquini Junior (Grupo Águia Branca), Tania Nossa (Alcoa) e Jedey Miranda (Europ Assistance).
A metodologia premia quatro aspectos principais das práticas produtivas das empresas: 
1. Liderança e engajamento: mede o grau de comprometimento da direção da corporação e do CIO com o tema
2. Práticas sustentáveis: trata das políticas de reuso, reciclagem, trabalho remoto, certificação de fornecedores, políticas internas de racionalização de equipamentos e da organização do ambiente de trabalho
3. Monitoramento e medição: avalia se a empresa tem metas de emissão de Gases de Efeito Estufa mensuráveis e se elas são registradas e verificadas de forma consciente
4. Instalações, equipamentos e centros de dados: pontua infraestrutura e ações como virtualização de sistemas, gestão de insumos e uso adequado de equipamentos.

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