quarta-feira, 1 de maio de 2013

Má qualidade do transporte coletivo reflete a falta de investimento no setor

O último investimento que teve na capital foi o Eixo Anhanguera, no ano de 1998. De lá para cá, pouca coisa se fez pelo transporte coletivo em Goiânia
Motoristas do transporte coletivo ameaçam parar amanhã devido a um impasse entre as empresas de ônibus, os motoristas e o Ministério do Trabalho. A categoria pede 19% de reajuste salarial, as empresas oferecerem apenas 7% e o Ministério do Trabalho sugere 10%. Atualmente o vencimento dos motoristas é de R$ 1.132,00, gratificação de R$ 200 e vale alimentação de R$ 300. Além dos 19% de aumento sobre salários e gratificações, os condutores dos ônibus do transporte público exigem 35% de reajuste sobre o ticket alimentação.
A última greve de motoristas de ônibus na capital ocorreu em 26 de abril de 2010, numa segunda-feira. Os motoristas do transporte coletivo fizeram uma paralisação surpresa e garantiram, à época, o reajuste requisitado. A greve vai piorar o que já é ruim. Hoje, o burburinho que se escuta dentro dos ônibus lotados é quão precário o sistema de transporte da capital é. Os passageiros temem que, com o novo reajuste no vencimento dos condutores, além de ruim o transporte coletivo fique mais caro.
Longos períodos de espera pelo ônibus e veículos com excesso de passageiros são as principais reclamações dos usuários dos ônibus transporte coletivo de Goiânia. “Os ônibus parecem que não têm um horário definido e temos que ficar no ponto esperando. Quando o ônibus finalmente chega, ele já está lotado. Deveriam colocar mais ônibus nas linhas, porque a gente sai do trabalho cansado e ainda tem que enfrentar a superlotação”, critica a agente de atendimento de Call Center, Thaynara Serafim.
A primeira reação do passageiro, quando o ônibus chega atrasado e lotado é condenar, o sistema pela falta de veículos. Todavia, esse é um raciocínio incorreto, explica o coordenador da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) - Regional Centro-Oeste e Superintendente de Desenvolvimento Urbano e Trânsito da Secretaria de Estado das Cidades de Goiás, Antenor Pinheiro. “O problema do transporte coletivo não está na quantidade de ônibus, mas sim na regularidade das viagens. A velocidade comercial dos ônibus é que interfere na qualidade do sistema.”
Antenor Pinheiro: “O problema do transporte coletivo não está na quantidade de ônibus, mas sim na regularidade das viagens
A ANTP não estabelece um número ideal de ônibus para cada determinado número de habitantes. O quantitativo da frota dependerá de um conjunto de fatores, como a quantidade de passageiros, onde eles estão localizados, a que horas o sistema precisa atender mais pessoas, quantos semáforos por quilômetro existem e qual é a frequência desejada de passagem nos pontos. Além disso, a velocidade operacional dos ônibus interfere diretamente no número de viagens.
A capital goiana possui atualmente uma frota com 1.376 veículos do transporte coletivo urbano, executando 266 linhas alimentadoras, diretas, eixos, expressas e semiurbanas. Além disso, outras 10 linhas são operadas na Rede Metropolitana de Transporte Coletivo – RMTC, pelo serviço complementar diferenciado, designado Citybus. Antenor Pinheiro acredita que estes números são capazes de atender a demanda da população que utiliza o transporte coletivo diariamente. Segundo o Coordenador da ANTP, o problema é que não há uma infraestrutura viária favorável para oferecer adequadamente as viagens.
O problema é que o tempo gasto pelo ônibus é o dobro do tempo gasto pelo carro no mesmo percurso, explica o professor universitário e doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo, Benjamin Jorge Rodrigues dos Santos. “No corredor da Avenida 24 de outubro, por exemplo, em horário de pico a velocidade dos ônibus não chega a 10 km/h, e o ideal é que essa velocidade fique entre 18 e 25 km/h. Se isso acontecesse, o sistema de transporte coletivo seria atrativo e proporcionaria a migração do transporte individual para o transporte coletivo”, critica.
O modelo de transporte coletivo de Curitiba, no Paraná, e o modelo de Goiânia foram planejados pelo mesmo urbanista, Jaime Lerner. Curitiba, que serviu de exemplo para grandes cidades como Bogotá e Cáli, na Colômbia, determinou o modelo atual de corredores para o transporte coletivo praticamente no mesmo período em que Goiânia, na década de 1970. Porém, aqui os gestores não obedeceram ao plano diretor, faltando investimentos na área de trânsito e transporte, explica o coordenador de corredores da Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC), Sávio Afonso. “Faltou em Goiânia a continuidade dos projetos. O último investimento que teve na capital foi o Eixo Anhanguera, no ano de 1998, antes disso foram criados alguns terminais. Depois de 1998 para cá, pouca coisa se fez pelo transporte coletivo.”
Na capital Paranaense, cuja população é 30% maior que a de Goiânia, a frota do transporte público é de 1.930 veículos, com 355 linhas operantes. O Plano Diretor da cidade, no ano de 1974, estipulava um sistema trinário de vias, que tem ao centro uma canaleta exclusiva para o ônibus, ladeada por duas vias de tráfego lento, em sentidos opostos. Implantado rigorosamente, o Plano Diretor de Curitiba proporcionou um transporte coletivo eficiente e rápido. Enquanto Goiânia dá início, somente agora, à construção dos corredores preferenciais para o transporte coletivo, que gera polêmica entre os motoristas dos carros e comerciantes das vias de grande fluxo.
Antenor Pinheiro acredita que o atraso na implantação dos corredores prioritários para o transporte coletivo será suprido com os novos projetos dos Bus Rapid Transit (BRT) e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Porém, o especialista critica a má gestão da capital nos últimos anos. Segundo ele, o que aconteceu é que, em determinado período, os gestores da capital deixaram de investir no sistema de transporte coletivo e ao mesmo tempo expandiram a malha viária priorizando o transporte individual. “Em algum momento isso tem que ser revisto, porque as cidades incham e o fluxo começa a travar. Então, o gestor tem que correr atrás do prejuízo. O que está acontecendo em Goiânia é isso, a recuperação de um passivo que vem se acumulando nas últimas quatro décadas”.
Sávio Afonso, coordenador da CMTC: “Não acredito que o metrô seja uma solução viável para a capital”
A implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e do Bus Rapid Transit (BRT) nos eixos Leste-Oeste e Norte-Sul, respectivamente, devem começar este ano, segundo a RMTC. Essas obras prometem requalificar o tão criticado transporte de massa da capital.Ambos acolhem demandas intermediárias e têm capacidade de passageiros parecida. Por hora e sentido, os dois modais carregam entre 10 mil e 30 mil usuários, uma capacidade muito acima que a dos ônibus convencionais e bem abaixo da quantidade que comporta um metrô.
Para o professor Benjamin Jorge, a cada vez que a cidade ganha 500 mil habitantes, já é necessária a atualização do plano diretor e fazer a integração entre o trânsito e o transporte público, cujos resultados sejam observados em médio prazo. “Hoje Goiânia tem uma considerável demanda pelo transporte público e esse transporte não está conseguindo atender as necessidades dos usuários. Para ter uma melhor qualidade é necessário atender um plano diretor integrado entre o trânsito e o transporte, que vai prever também a instalação de um transporte coletivo de massa, como o metrô”, comenta.
O coordenador da CMTC, Sávio Afonso, não acredita que o metrô seja uma solução viável para a capital. Afonso ilustra que o custo para a implantação deste transporte de massa é muito alto e depende de recursos federais. Ele elucida ainda que, São Paulo e a Cidade do México deram início à construção do Metrô praticamente na mesma época. Contudo, São Paulo tem apenas 50 quilômetros dessa estrutura, enquanto a Cidade do México tem 200 quilômetros. Isso, de acordo com o especialista em corredores, mostra a dificuldade de implantação do Metrô. “O nosso viário ainda nos ajuda a ter soluções mais adequadas. Chega de fazer soluções pontuais para o automóvel, o momento é de buscar soluções no transporte coletivo.”
Embora, os especialistas associem a má qualidade do transporte coletivo da capital e região metropolitana ao tráfego intenso e a falta de estrutura viária, os usuários não acreditam que a solução esteja na implantação dos corredores preferenciais para os ônibus. O vendedor ambulante, Edvaldo Silva, critica que em Goianira, por exemplo, os veículos do transporte coletivo estão sempre com a lotação máxima e atrasados. “O transporte público é péssimo e o valor da passagem é muito alto. Pego ônibus abarrotado em Goianira todos os dias. Falta ônibus nas linhas”, reclama.
Mas, no caso de Edvaldo os ônibus vão continuar lotados e atrasados, porque os corredores preferenciais não irão mudar a realidade do transporte público na região de Goianira. Isso, se a greve não persistir por muito tempo, porque se continuar, Edvaldo não terá meios para ir ao trabalho. A implantação dos corredores, que já foi concretizada na Rua 10 e Avenida T-63, está planejada agora para as Avenidas T-7, T-9, T-85, Independência e 24 de Outubro. Ou seja, essas obras não vão beneficiar diretamente os usuários de outros municípios, cujas linhas não percorrem as áreas dos novos corredores.
Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (Setransp) informou que se mantém determinado e dedicado a um entendimento com os representantes dos motoristas da RMTC, a fim de retornar o serviço com a maior brevidade possível.

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