Por Assessoria de imprensa ERS
O juiz Maurício Cavallazzi Povoas, de Joinville-SC deferiu na última terça feira, (01.11), o processamento da recuperação judicial da empresa BUSSCAR S/A, fabricante de ônibus, e peças em fibra de vidro para a indústria automotiva. O passivo da indústria é de pouco mais de R$ 1,2 bilhão. São 6,8 mil de credores – entre bancos, fornecedores e funcionários – que têm direito a R$ 622 milhões. Os débitos tributários alcançam R$ 580 milhões.
De acordo com advogado da empresa, especialista em recuperação judicial, Euclides Ribeiro todos os credores serão contatados nas próximas semanas para negociar as dívidas com a fabricante de carrocerias. Os funcionários serão representados pelo sindicato da categoria (Sindicato dos Mecânicos de Joinville) e os principais bancos farão os acordos que julgarem mais coerentes. “O foco é estruturar o plano para que a empresa volte a funcionar com força total”, disse.
Ribeiro explicou que inicialmente a empresa não divulgou quais opções de pagamento e planejamento de investimentos que pretende apresentar ao mercado. “Há a ideia de desmobilização e possivelmente pode haver a contratação de uma consultoria de reestruturação para acompanhar o projeto”, informou.
Sindicato aprova medida
Ribeiro também informou que se o plano de recuperação judicial for aprovado, a lei determina que os 19 salários atrasados dos funcionários da Busscar devem ser pagos no prazo máximo de um ano. A retomada da produção poderá acontecer em qualquer momento estabelecido pela diretoria. O presidente do Sindicato dos Mecânicos, João Bruggmann, entende que a decisão da Busscar de recorrer à recuperação judicial é positiva, mas evita euforia.
Para o sindicalista, a recuperação judicial é muito melhor do que a realização do leilão ou a decretação da falência. “O que for adequado e que permita pagamento de salários em dia nós apoiamos. Afinal, a Busscar é da sociedade.”
A advogada do sindicato, Luiza de Bastiani, diz que a avaliação dos bens do Grupo Busscar, prevista para ser encerrada nos próximos dias, vai continuar. Ela explica que a 5ª Vara Cível deve intimar a Justiça do Trabalho. “Não acredito que alguém vá recorrer à decisão da 5ª Vara Cível, pois a situação ficou mais confortável para os credores”, acrescentou.
O especialista
A nova estratégia de recuperação da Busscar está nas mãos de Euclides Ribeiro S. Júnior, advogado formado pela Universidade Federal do Mato Grosso e especialista em direito tributário e recuperação judicial de empresas pelo Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Insper-SP).
O profissional atuou em vários casos de recuperação judicial em todo o Brasil e é considerado um dos mais importantes especialistas do ramo no País. Ribeiro é pioneiro em ações e, só neste ano, o advogado dá andamento a mais de 40 processos desta espécie.
Segundo o Advogado o país está vivendo um novo momento na indústria de tournaround. Este moderno instrumento de recuperação judicial passa a ser utilizado como uma ferramenta de gestão dentro de um projeto completo de virada nos resultados do negócio, não mais como a solução isolada do passivo. Os projetos de turnaround passam a contemplar a construção de um time de gestão capaz de conduzir a empresa para uma nova etapa através de uma estratégia de curto prazo que tem como único objetivo a aceleração da operação da empresa, para que o EBTIDA volte a aparecer e sustentar o plano de pagamentos.
“Vemos com ótimos olhos esse novo momento mas ainda percebemos grande caminho a percorrer. Quando olhamos para a indústria de turnaround no EUA percebemos a maturidade dos projetos, primeiro com a proteção judicial, depois com a construção de projetos de gestão para o turnaround e finalmente com entrada de fundos dedicados a estruturar os créditos no Mercado secundário. No Brasil estamos dando o segundo passo mas o terceiro ainda esta por vir”, finalizou.
Histórico da Empresa
Ao longo das últimas seis décadas, o Grupo, por meio da empresa Busscar Ônibus S.A., consolidou sua marca como uma das maiores empresas do mundo, com a fabricação de carrocerias para ônibus nas versões Double Deck (DD), Rodoviário, Urbano, Micro Ônibus, para atender o exigente mercado mundial.
O grupo criado em 1946, acompanhou o processo de industrialização do parque fabril brasileiro, em suas diversas fases de automação e, a partir de 1990, deu seus primeiros passos na profissionalização e internacionalização, com a mudança da marca de Carrocerias Nielson S/A para Busscar Ônibus S/A, marca essa reconhecida hoje como uma detentora. Mesmo em crise, a indústria tem grande tecnologia e durabilidade, tanto que mesmo nessa crise financeira a empresa continua fabricando ônibus para vários clientes.
A partir do início dos anos 90, durante a abertura de mercado com as exportações, a Busscar Ônibus S.A. consolidou sua vocação como empresa exportadora, desenvolveu novos mercados em mais de 70 países.
Dentro de um processo de sucessão não planejado, no final de 1998, o fundador e estrategista da Busscar faleceu em um acidente aéreo. Deste então a empresa iniciou um processo de profissionalização voltado ao crescimento nas vendas e nos investimentos em seu parque fabril para suportar a demanda do mercado, apoiado em um projeto pelo IFC que acabou não se concretizando, coincidindo com um momento difícil da economia sul americana, entre os anos de 2001 a 2003, que acabou estabelecendo uma forte crise financeira no MERCOSUL.
Com investimentos em modernização e aumento da capacidade do seu parque fabril entre os anos de 2000 a 2001, na ordem de R$ 70 milhões, tendo como base um projeto pré-aprovado junto ao IFC, que acabou não se materializando, a empresa Busscar, naquele momento, lançou mão de seu capital de giro para cobrir os custos com investimentos estratégicos até o final, invertendo a relação capital próprio para capital de terceiros, deslocando a estrutura de financiamento do ciclo produtivo, situação essa prejudicial à sua saúde financeira, que foi agravada pelo momento macroeconômico de extrema dificuldade financeira e gestão, entre os anos de 2002 e 2003.
Nesse período, a Busscar se socorreu ao BNDES, que aprovou um empréstimo de R$ 30 milhões para capital de giro, com a liberação ocorrendo em fevereiro/2004, e às montadoras Volvo e Mercedes Benz, que lhes cederam R$ 13 milhões (liquidados em dezembro/2004), período em que também implementou mudanças com um novo conceito de gestão e substituição de todos os seus executivos, refinanciou seu passivo junto aos bancos e fornecedores, elaborou seu plano de negócios e iniciou um processo de e os resultados apareceram em 2004, quando contava com um quadro de 2.169 colaboradores diretos e faturamento de R$ 243.223 mil/ano para R$ 820.041 mil/ano em 2008, com um novo quadro de colaboradores diretos na ordem de 5.082 em janeiro de 2009.
A Busscar, após a liberação dos recursos pelo BNDES, ajustou sua estrutura de custos ao modelo necessário à época, considerada como uma empresa de alto grau de manufatura e, como já dito, a partir do segundo semestre de 2004 retomou os níveis de produção/vendas exigidos pelo mercado brasileiro e exportação, e em 2008 alcançou um share do mercado na ordem de 20%.
Com seu parque fabril atualizado e dotado de investimentos em treinamento e tecnologia de última geração, com laboratórios de qualidade, engenharia de processos e capacidade intelectual desenvolvida em Joinville, com mão-de-obra e capacidade intelectual local, a Busscar, através de seu modelo de engenharia simultânea, sempre garantiu respostas rápidas às montadoras e aos seus clientes, nos mais diversos modelos de ônibus, a partir da plataforma brasileira.
Realizou nos anos de 2004 a 2008 investimentos na manutenção/modernização de seu parque fabril, com recursos próprios, com montante de R$ 28 milhões.
Proprietária de uma forte marca, com reconhecimento no mercado mundial, a partir de 2004, a Busscar reestruturou seu passivo financeiro junto aos Bancos, alongando o fluxo de amortização em 96 parcelas, projetando seu plano estratégico de negócios para os próximos 10 anos a partir daí.
Apesar de todo o crescimento, existia um grande caminho a percorrer que não se resolvia com os financiamentos expostos, e que se baseava na grande dificuldade de fluxo de caixa, devidos aos compromissos financeiros assumidos dev2003 e 2004, em função de uma expectativa de direito sobre ativos.
Segundo Ribeiro a crise de crédito mundial que assolou o mercado financeiro nacional e internacional, restringiu as linhas de créditos tanto para demanda interna, como para linha de financiamento para empresas exportadoras, como a Busscar. “Mesmo assim a indústria manteve em seu portfólio o faturamento na ordem de 30% a 40% de seus recebíveis em moeda estrangeira”, informou..
No mercado nacional a frota, em 2008, totalizava 350 mil ônibus, com idade média de 13 anos, o que demonstra grande potencial de renovação, no qual perspectivas apontam para um aumento de 8% ao ano de novos veículos, número esse que pode ser melhorado com a proximidade da Copa do Mundo de 2014.
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