Adivinhar o modelo do ônibus só pelo barulho do motor é um dos passatempos do auxiliar de escritório carioca André Luiz Gomes de Souza, de 33 anos. Ele é busólogo assumido. O termo que ainda não consta nos dicionários se refere ao estudo dos ônibus. Ontem, o prédio do Museu de Artes de Londrina, antiga rodoviária projetada pelo arquiteto Vilanova Artigas, abrigou o 1º Encontro Nacional de Busólogos (Enbus). Souza viajou – de ônibus – quase mil quilômetros para participar do evento. "O contato com todos esses ônibus aqui não tem preço", contou.
Enquanto o sonho de consumo da maioria são carros esportivos como Ferrari ou Porsche, os busólogos idolatram mesmo os Busscar, Marcopolo, Comil. A iniciativa partiu do casal Ricardo e Andrea Perrud. Ela, que é jornalista e blogueira, conta que fez um serviço de resgate da memória para a Viação Garcia. "Já gostava muito do tema, mas nesse tempo eu viajei por várias rodoviárias do País, colhendo histórias de vida. Foi um trabalho muito enriquecedor", lembrou.
A jardineira Catita, da Viação Garcia, primeiro ônibus do Norte do Paraná, um Ford BB de 1933, foi a atração principal da exposição. O veículo que desafiou os atoleiros na terra vermelha nos primeiros anos de colonização atraiu olhares de curiosidade e admiração "É muito importante preservar esta história. O ônibus faz parte da nossa vida", contou o comerciante Sérgio Luiz Vocoli, de 62 anos, que desembarcou em Londrina na rodoviária antiga em 1979.
Mas nem só de passado vive a busologia. O pequeno Arthur, de 8 anos, é um dos exemplos de que a cultura em torno dos ônibus ainda tem muito o que render. O menino londrinense é fã dos coletivos e não sossegou enquanto não conseguiu uma visita à garagem de uma empresa. "Eu gosto muito de viajar de ônibus. Eles também são meus brinquedos favoritos", disse, mostrando as miniaturas. Isadora Cunha, de 9 anos, não é busóloga como Arthur, mas fez questão de conferir os ônibus de perto. Ela se encantou com a diligência da Princesa dos Campos, que fazia a linha Ponta Grossa-Curitiba nos anos 1940. "Não imaginava que o ônibus era assim antes", comentou.
Os visitantes puderam conferir cerca de 30 modelos históricos e atuais com alta tecnologia de empresas de todo o Brasil. "É muito bom relembrar a história e ver que as empresas estão acompanhando as evoluções tecnológicas. Afinal, viajar de ônibus é uma experiência agradável, pois você curte a viagem, admirando paisagens", ressaltou o tecnólogo em mecânica Luiz Antônio Pigozzo. Ele vai lançar um livro ainda este ano sobre dicas de otimização de rendimento para empresas. Pigozzo defende a valorização da profissão do motorista. "Hoje existe uma vocação com forte restrição familiar, mas no geral não há muitos interessados em ser motorista de ônibus. As empresas precisam criar miniclubes, incentivar essa paixão", defendeu.
Fonte: Folha de Londrina
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