Lélis Marcos, em depoimento à CPI dos Ônibus, desqualificou o empresário do termo "rei dos ônibus" e o citou como liderança no setor
presidente da Rio Ônibus, Lélis Marcos, afirmou nesta quinta-feira, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, que o empresário Jacob Barata não pode ser considerado como "rei" do setor na capital fluminense por possuir, junto com seus familiares, apenas 11,28% das empresas do ramo. "Não é verdade", respondeu, sobre o fato de Barata ser considerado o "rei dos ônibus no Rio de Janeiro". "Ele é uma figura tradicional, de liderança. Ele tem 4,6% de participação no setor dessa cidade. Se considerado o grupo familiar, que tem seus negócios próprios, ele tem 11,28% dessa participação", complementou Marcos.
O presidente da Rio Ônibus trouxe documentos a serem entregues para avaliação da comissão parlamentar que, segundo ele, "comprovam que Jacob Barata não controla o sistema. "Ele tem uma liderança pessoal que não se refere no controle acionário. Que fique claro através dos contratos que aí estão, por todos os dados levantados, que isso não é verdade", ressaltou.
A sessão ocorreu com uma das galerias enfeitadas com baratas de cartolina pintadas e penduradas pela plenária. Uma faixa também foi exposta com os dizeres: "Esta CPI é uma farsa". Mais cedo, manifestantes, sem cobrirem o rosto, interromperam a sessão por diversos momentos e chegaram a atirar moedas em direção aos vereadores.
Jacob Barata já foi alvo da fúria dos ativistas nas ruas no casamento de sua neta, Beatriz Barata, ocorrido no centro do Rio, e com festa no tradicional hotel Copacabana Palace. Manifestantes ironizaram o empresário e tumultuaram a saída da cerimônia.
Um convidado chegou a atirar um cinzeiro que atingiu a testa de um jovem que participava do ato. Tudo porque o empresário seria o "controlador" do setor e estaria por trás de uma espécie de cartel entre as empresas, fato, mais uma vez, negado pelo presidente da Rio Ônibus. "Esse prazo (de entrega de documentos) foi rigidamente cumprido pelas empresas em processo acompanhado pela Procuradoria Geral do Município, pela imprensa, por todos. Houve a participação dos concorrentes sim, com a participação de empresas de outros Estados", disse Marcos sobre o processo licitatório ocorrido em 2010 e que deixou o Rio de Janeiro, dividido em quatro setores, nas mãos de quatro consórcios.
Representante de consórcio depõe
Maximino Gonçalves, advogado e representante do Consórcio Santa Cruz (zona oeste, sem Barra da Tijuca e Jacarepaguá), afirmou em depoimento à comissão que o contrato com a prefeitura é de R$ 3,3 bilhões, válido por 20 anos. "Por essa razão de tempo maior que se consegue uma tarifa mais baixa, se o contrato fosse curto o valor teria que ser maior", argumentou. O advogado da empresa trouxe documentos que foram entregues à CPI.
Antes dele, falou aos vereadores o Procurador Geral do Município, Fernando Dionísio, que negou a denúncia de formação de cartel entre as empresas de ônibus ao afirmar que "o próprio Tribunal de Contas (do Município) atestou isso". "Não só nos pareceres como se vê em declarações jornalísticas também", declarou.
Após o início tumultuado com um grupo de 20 manifestantes, que atiraram moedas nos vereadores, bem menor, aliás, do que o presente há duas semanas, que causou conflito entre as alas pró e contra a CPI, um único representante permaneceu na galeria dizendo que "esta é uma CPI chapa branca".
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.
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